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Publicado em: 04 Novembro 2024

Inauguração das exposições de John Goto: New World Circus e Terezín

O ciclo de homenagem ao artista John Goto conta com duas exposições do falecido artista no Centro de Cultura do Politécnico do Porto.

No âmbito da programação do Imagens do Real Imaginado, no dia 11 de novembro, pelas 17h00, inaugura, no Centro de Cultura do Politécnico do Porto, as exposições New World Circus e Terezín, de John Goto.

A preceder as inaugurações, há espaço para a visualização do filme “Goto, a Ilha do Amor” (1969) de Walerian Borowczyk, pelas 15h00.

O cinema francês new wave de Robbe-Grillet, Godard e outros, bem como as obras-primas do romance europeu moderno – Pasternak, Zamyatin, Kafka, Orwell, Levi e outros – alimentaram o apetite de Goto pela cultura visual/verbal como tal, agora em revolta contra as desigualdades sociais britânicas, as culturas de consumo desenfreadas e os novos níveis de tensão Leste-Oeste durante as últimas fases da Guerra Fria.

Foi neste contexto que Goto viajou pela primeira vez para Praga como participante num espetáculo itinerante do British Council em 1983. Uma visita ao campo de “trânsito” de Terezín (em alemão Teresienstadt), criado como um centro de detenção para as populações judaicas da Boémia e da Morávia com destino a Auschwitz e outros lugares. Primeiro, um conjunto de fotografias da antiga fortaleza de Terezín; e depois, ao longo dos próximos anos, um conjunto de foto-pinturas construídas por métodos de montagem e médio-cruzamento que estruturam o primeiro dos dois projetos expostos aqui no Porto. A montagem, isto é, a rutura ou adulteração de um contexto ou meio por outro, por si só não dá acesso às verdades da memória ou da história; no entanto, é implantado no projeto Terezín final de Goto, em 1988, para pressionar as imagens e os meios de comunicação a contar conflitos: por um lado, documentos da prática infernal e da teoria da “solução final”; por outro, o ethos pacífico e internacionalista da Bauhaus, trazido em contraste chocante entre si pela tinta espalhada por superfícies fotográficas sombrias e escurecidas.

Vários outros projetos do final dos anos 1980 e 1990 são marcados por comentários mordazes sobre a história recente e presente, a do Reino Unido ou então dos países do bloco soviético em ruínas antes e depois de 1989. Entretanto, para o artista ocidental estava em curso uma revolução técnica: a do computador, especificamente o software Apple Macintosh e Adobe Photoshop, ambos desenvolvidos nos EUA, que podia lidar com imagens digitais em oposição às analógicas sem recorrer a tesouras, tinta manchada ou cola. Ficou imediatamente claro que o carácter técnico, mas também psicológico e visual da imagem nunca poderia ser o mesmo. E agora um novo contexto: o da ascensão do Islão fundamentalista em alguns dos países mais pobres do mundo, confrontado com uma investida militar de governos ocidentais empenhados em estabelecer e manter o domínio ideológico e comercial.

Em que registo foi o artista individual a responder? Na segunda série exibida no Porto, provocadoramente intitulada John Goto’s New World Circus (2007), vemos Goto abandonar as convenções do documentário em favor de nada mais do que o riso, em particular os métodos de François Rabelais (c1490-1553) e os escritos do seu representante moderno Mikhail Bakhtin.

Agora é o circo que dá o tom com o seu amor pelo exagerado, pelo improvável e pelo cómico. Vemos o próprio Goto como um mestre, conduzindo uma zombaria colorida e estridente do pessoal da chamada “guerra ao terror” desencadeada pelo presidente dos EUA, George Bush, em 2001. As vinte cenas da obra são grotescas, paródicas e absurdas, além de barulhentas, violentas e zombeteiras – como que em reprise dos métodos satíricos de há muito tempo. No entanto, havia mais. Aquilo a que Goto chamou a qualidade “amorfa” da fotografia digital assemelha-se, nas suas palavras, “à do sonho, da metáfora, da alucinação, da piada, da visão e de todo o tipo de truques, brincadeiras, desprezos de mão e ilusões”. A montagem digital poderia possuir o sonho e o estado de vigília, articular amor e ódio, seriedade e riso, a beleza e o horror da estética com uma liberdade e poder notáveis. No tempo entre o New World Circus e agora, as culturas da foto-imagem tiveram que lutar com o valor-verdade das imagens, com a automação, com a distribuição, com os direitos autorais e muito mais. Mas o impulso à invenção permanece.

De 11 a 15 de novembro de 2024 realiza-se a 20.ª edição do Imagens do Real Imaginado – Ciclo de Fotografia, Cinema e Multimédia. O evento, que decorrerá entre o Centro de Cultura do Politécnico do Porto, o Centro Português de Fotografia, o Teatro Municipal de Vila do Conde e a ESMAD, promove a proximidade da comunidade académica ao território e ao público, através das artes e da ciência, embalada ao som das práticas cinematográficas, fotográficas e interativas.

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