A terceira edição do Diafragma – Festival Internacional de Fotografia e Artes Visuais insere-se nas comemorações dos cinquenta anos do 25 de abril e tem como tema a liberdade.
As obras dos artistas fotógrafos que expõem nos múltiplos espaços culturais do Concelho são exemplares do que é a liberdade e, sobretudo, a liberdade de criação. Neste conjunto de exposições, os temas da paisagem, do aquecimento global e das alterações climáticas, da repressão política e da censura, do machismo e do colonialismo, da vigilância e do abuso do poder do estado interpelam-nos como que a lembrar-nos que a liberdade não é um destino, mas um caminho que se constrói dia a dia, uma resistência ao conformismo, uma reinvenção do mundo.
O festival integra, ainda, uma grande exposição coletiva, 50 Anos de Liberdade, 50 Fotógrafos, que reúne fotografias de cinquenta fotógrafos, obras livres de preconceitos ou constrangimentos, dentro do mundo e das suas realidades concretas, dando vida às suas ideias e sentimentos, confrontando o outro (nós) na diferença.
Olívia da Silva, presidente da ESMAD, marca presença com a exposição "Nadir Afonso, no Tempo e no Lugar", na Galeria António Lopes.
Em fotografia, o retrato é um desafio. No momento que o fotógrafo rouba ao retratado fica registado não só a inexistência do tempo, como a projeção mental da sequência temporal. Nas mãos do fotógrafo cabe a responsabilidade do que a imagem mostra, do que esconde e do que sugere.
Olívia da Silva sabia que para Nadir Afonso o Tempo não existe e, por isso, tirá-lo como figura para fora do tempo era uma exigência a cumprir no retrato. Pelas palavras de Nadir Afonso o tempo é uma criação do homem, fundada na relação entre espaço e movimento e, assim, Olívia da Silva, nos seus retratos, quis captar o desenho do movimento dentro do espaço, anódino, intrigante, mas capaz de indefinir um tempo. E com a fotografia conseguiu mostrar o movimento (como cenário do pensamento) dentro do espaço (cenário da vida) do artista. Com decisões que parecem pequenas construiu o cenário. A imensa coleção de quadros embalados deu corpo às infinitas viagens das peças de Nadir Afonso. No seu redor, momentos. Linhas e cor. Movimentos: o estender do braço num discurso, o geométrico gesto dos dedos para o ajuste da boina, a voz que se adivinha no torso harmonizado com o rosto, tudo entrou no retrato como se cada disparo fosse um ato de respiração sem antecedente e sem consequência. Como se cada disparo embrulhasse o nosso olhar em hipóteses de ver.
Michel Gauzes, para comentar a obra de Nadir Afonso usa a metáfora da sístole que lhe serve como ideia de “contração” e da diástole para a ideia de “repouso”. Olívia da Silva, para o retrato fotográfico de Nadir Afonso, selecionou do disparo da máquina vários momentos de sístole (onde o movimento lento se contrai num espaço) e um de diástole (onde o infinito repousa no que não se move) quando o artista a olha (no mesmo momento em que a camara de Olívia o olha a ele), e retratado permanece olhando os que olham a fotografia, provando que o tempo não existe e que o retrato o tira de tudo o que é definido e finito. Adriana Baptista
Banda Sonora da exposição individual
Composição original de Dimitris Andrikopolous