No dia 12 de dezembro de 2024, pelas 15h00, o Centro de Cultura do Politécnico do Porto exibe Nadir Afonso — O Tempo Não Existe (PT, 2012, 57') de Jorge Campos.
20 anos depois, Jorge Campos volta a filmar Nadir Afonso, agora na intimidade da sua casa de Cascais e, uma vez mais, na imensidão da terra transmontana. Em O Tempo Não Existe respira o dia a dia de um homem que virou a casa dos 90 anos e continua a fazer da pintura e da reflexão sobre ela a razão de ser da sua existência.
Há quase 20 anos fiz um documentário sobre Nadir Afonso. Na altura, filmei em Paris, Cascais e em Chaves. Em Paris, onde Nadir reencontrou antigos companheiros do atelier de Le Corbusier e, de certo modo, iniciou o percurso que haveria de fazer dele uma das principais figuras da pintura portuguesa contemporânea. Em Cascais, onde vivia. Em Chaves, onde nasceu.
O documentário teve inúmeras passagens em televisão, foi mostrado em público em diversas circunstâncias e arrecadou alguns prémios. Agora, voltei a filmar o pintor, por sinal alguém que sempre aliou a pintura à reflexão sobre o sentido da Arte. Aos 90 anos continua a olhar de modo obsessivo o trabalho produzido à procura da forma justa, exemplar, sem margem de erro. Observa os quadros, retoca. Um dia, disse-me: uma obra minha só está acabada no dia em que eu morrer. Nessa busca do absoluto encarada como percurso sem fim, escreve. Publica. Já pouco sai da sua casa de Cascais, mas continua a visitar a terra transmontana das suas raízes onde a paisagem se torna humana e o homem se faz paisagem. Por qualquer razão é aí, de forma vivencial e intuitiva, que encontra fundamento para a inexplicável relação que o leva a associar o cosmos à exactidão das formas, às leis que regem a obra de arte. Digo inexplicável porque a geometria das suas telas, talvez paradoxalmente, apela à emoção mais do que à razão. Diria mesmo, apela à emoção pura. Assim sendo, O Tempo não Existe. Tudo é espaço e movimento.
Neste filme, fui à procura dessa relação tangível observando o seu dia a dia na companhia da família, ouvindo-o e vendo-o deambular em volta da pintura, mergulhando nas suas raízes que agora encontram expressão material no Centro de Artes Nadir Afonso em Boticas, cuja orientação aponta para a aldeia de Sapelos, a terra da mãe. Trabalhei com imagens fixas e imagens em movimento e deixei que o filme fosse acontecendo. Não sei se as articulações que me foram sendo sugeridas durante esses dias de filmagens e, depois, na montagem são as mais justas e pertinentes. Há uma cena em que Nadir observa um quadro e diz que sentiu necessidade de nele colocar um branco sem saber bem porquê. Comigo sucedeu algo de semelhante ao contrapor uma pintura tão moderna e uma figura tão singular ao esplendor da paisagem transmontana com os seus sons e os seus pastores. Dimitris Andrikopoulos na música terá sentido o mesmo, bem como Olívia Marques da Silva nas fotos. E também Carlos Filipe de Sousa na direcção de fotografia, Fernando Teixeira no som e, obviamente, o José Alberto Pinheiro que fez a montagem e com quem tanto falei dessa ideia que deveria estar presente sendo, no entanto, apenas sugerida no quadro de uma tentativa sem limites de busca do absoluto – O Tempo não Existe. Jorge Campos
Um filme de Jorge Campos, uma co-produção Fundação Nadir Afonso/ Vigília Filmes/ DAI ESMAE
Produção: José Quinta Ferreira / José Alberto Pinheiro | Fotografias: Olívia Da Silva | Música: Dimitris Andrikopoulos | Direção de Fotografia: Carlos Filipe Sousa | Som: Fernando Teixeira | Edição :José Alberto Pinheiro | Operador de Imagem: João Paulo Gomes | Leitura de textos de Nadir Afonso: José Carlos Tinoco